Fortaleça seus amigos

Em uma tarde de clima ameno de maio, na companhia do meu chá quentinho, folheio meu diário cheio de recordações e relatos de dias bons e de outros nem tanto…
Noto que por vários dias tive conversas com amigos que por algum motivo me escolheram pra confidenciar os motivos das suas ansiedades, medos, desilusões. Fico extremamente honrada quando isso acontece, e procuro ser a melhor ouvinte que eles poderiam ter quando abrem o coração.

Sempre tive mais amigos homens do que mulheres, naturalmente as relações se mantinham por mais tempo e era com eles que eu sentia que podia ser simplesmente eu, sem rodeios, sem maquiagem, sem roupa bonita. Com eles a minha relação sempre foi leve, sincera e duradoura. Ultimamente com o feminismo ganhando força tive mais acesso ao mundo das mulheres; grupos começaram a se estabelecer nas redes sociais, e mergulhei em uma leva de depoimentos e relatos de mulheres que se sentiam sozinhas, que tinham as mesmas dúvidas que eu, e que também colecionavam inseguranças e medos. A rede ganhou força, demos e recebemos amparo uma das outras, trocamos telefones, nos reunimos, nos unimos.

E diante de tanto apoio feminino, de tantas trocas sobre assuntos variados, alguns pesados, outros engraçados, fui percebendo que meus amigos não tinham isso. Veja bem, os homens são tidos como parceiros até o fim – e essa é realmente uma verdade –  mas não são todos eles que contam com uma rede de apoio emocional e mental por exemplo quando terminam com a namorada, quando perdem um ente querido, quando estão inseguros em relação ao corpo ou à situação atual da vida pessoal ou profissional.

Parece que as amizades entre as mulheres se tornaram mais profundas, as vezes nem sabemos o que a fulana faz, ou nem a conhecemos pessoalmente, mas estamos lá com autorização dela, dando conselhos e amparando no que for preciso, cedendo nosso tempo com palavras de apoio e carinho. Enquanto isso, sinto que as amizades masculinas ficaram na mesma, nem rasas nem profundas, mas cumprindo o papel de sempre, de amparar na parceria mas talvez sem a profundidade que as vezes seria ideal naquele momento.

O machismo histórico também afetou os homens… Eles ficaram com o papel de força, de proteção, de serem os provedores da casa, de terem a responsabilidade financeira pela família. Não foi lhes dado a chance de falar sobre o que sentiam, eles simplesmente não foram ensinados a conversar e a colocar para fora a confusão de sentimentos, porque isso não era coisa de homem.

Homens, conversem. Não é fácil falar de sentimento, não é fácil abrir suas inseguranças, mas tentem aos poucos colocar isso pra fora. Procurem um amigo que você acha que vai te escutar, ou uma amiga em quem você confia e confidencie suas angústias. Ninguém precisa ser “expert” em conselhos para ser um bom ouvinte, é a troca de experiências que fortalece as relações e faz com que enxerguemos além do padrão em que vivemos. As vezes o que parece um monstro de sete cabeças ou um problema sem solução aparente, diante da experiência do outro se torna algo tão pequenininho, que uma simples conversa já consegue levar a um direcionamento ou uma resolução.

Mulheres, fiquem atentas ao seu amigo, ao seu namorado, ao seu filho. Abram espaço para a conversa, apoiem, amparem quando for o caso. Sabemos o quão difícil foi chegar até o momento de conseguir falar sobre nossos sentimentos, e o quão doloroso é não ter alguém para ouvir e compartilhar inseguranças, então se você se sentir pronta, seja um ombro amigo amparando a quem precisa.

Fortaleça seus amigos.

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