Machucar o outro não deveria ser opção

Por que somos tão maus com as pessoas que gostam de nós?
Por que os mais próximos, que se importam, sempre acabam feridos?

Não sei qual foi o momento exato que eu passei de uma pessoa egoísta pra alguém que se doa completamente. Bom, eu não fui sempre egoísta na verdade… mas reconheço que cabeça dura e turrona eram meus sobrenomes – e não me orgulho não. Mas voltando ao início, não sei quando tive essa transição… só sei que foi pela dor, e não pelo amor.

Antes de virar a chave eu fui uma péssima pessoa, pra dois homens em especial. Um deles eu conheci num café da tarde com pão de queijo no frio. Cara simples de conviver, de jeito ogro mas completamente delicado comigo, me chamava de florzinha e conseguia me arrancar um sorriso até nos meus dias mais tristes. Eu podia passar horas e horas de mãos dadas deitada na grama com ele que nunca nos faltavam assuntos e sorrisos sinceros. Lembro de todos os presentes engraçados que ele me deu, um foi uma melancia gigante, lembro de todas as caminhadas embaixo de sol pra olhar cavalos e do dia em que nos escondemos no cocho de sal das vacas por causa do granizo. Aos meus olhos ele era meu melhor amigo, e não passaria disso. Ele cansou da minha indecisão e partiu. Foram os dias mais sinceros que eu tive e foi o primeiro coração que eu quebrei.

O segundo eu re-conheci mesmo estando em outro continente, tive que usar toda minha criatividade pra puxar papo com ele, mas deu certo! Não ficamos mais um dia sem conversar, e mesmo a dois oceanos de distância eu me sentia mais próxima dele do que de qualquer outra pessoa que me rodeasse. Nosso primeiro encontro quase não aconteceu porque ele dormiu, nosso primeiro beijo foi desajeitado, mas logo a intimidade se fez presente, e as tardes jogados no chão, abraçados, ouvindo vinil e fitando o brilho nos olhos um do outro foram um acalento pro meu coração machucado. Foi o cara mais forte que eu conheci, que em nenhum momento escondeu o que sentia por mim e o que queria pra nós, foi o cara que meu deu colo quando eu não conseguia mais andar com as minhas pernas, que me abraçou forte quando eu queria desaparecer, e foi o segundo coração enorme que eu quebrei.
Eu menti pra mim, manipulei os sentimentos dele, fui extremamente egoísta e só queria desaparecer dessa cidade e do convívio das pessoas que me quebraram primeiro. Eu não tinha nada pra oferecer, estava vazia.
Dia desses limpando a caixa de entrada do Gmail, encontrei nossas trocas de e-mails, li todos e acho que nunca me envergonhei tanto na vida. É claro que eu já tinha repensado tudo, depois desse tempo todo, mas estar ali lendo minhas próprias palavras gravadas naqueles e-mails me tirou o chão. Como eu pude ser tão má com alguém que me amava tanto? Por que diabos fazemos isso? O choro de tristeza, mágoa, vergonha e raiva de mim mesma foi inevitável.

Por que nossa maturidade emocional demora tanto a chegar? Quando eu pude ser eu, em outro continente, consegui enxergar de novo a beleza da convivência com outras pessoas, fiz amigos e irmãos eternos, recuperei a esperança e entendi enfim tudo que eles me diziam. Mas a maturidade emocional? Essa aprendi pela dor, de novo, pela terceira vez de mentiras e manipulação do meu amor, depois de ouvir muitos gritos, ver murros na parede e sofrer ameaças. Acho que eram as mãos da vida me chacoalhando e dizendo: de novo não garota! FUJA imediatamente, corra para o mais longe que você puder, não se contamine com esse desamor de novo… demorou, mas foi isso que eu fiz. E só depois de juntar todos os cacos sozinha, que consegui distinguir o que era amor do que era manipulação fria.

Quando a gente gosta de alguém tentamos esconder todos os defeitos daquela pessoa, arranjamos desculpa pra falta de atenção, defendemos a falta de comprometimento, tentamos não ver as traições, as mentiras, as mensagens visualizadas e não respondidas. Passamos pano pra cada mentira deslavada que nos é contada, e engolimos a seco e em silêncio, na esperança que a pessoa faça o que não fizemos – enxergue a tempo. Mesmo sendo o meu coração a quebrar, sinto um misto de pena e tristeza de ver alguém trilhando por opção o caminho do desamor.

Se eu pudesse dar um conselho a vocês que aqui leem eu diria: sejam sinceros, primeiro com o que vocês sentem, mas principalmente sejam sinceros com quem gosta de vocês. Não mintam, não manipulem, não façam a outra pessoa perder tempo dando o amor que você não quer ou não está pronto pra receber. Vou lhes dizer uma coisa, um dia a vida cobra, e o preço é alto. Queria que ninguém tivesse que passar por esse momento se fosse possível, mas crescer é inevitável. Não se vira adulto pagando contas, fazendo happy hour e tendo sucesso profissional. Se vira adulto quando você tem coragem suficiente pra assumir as próprias merdas, pedir perdão e não repetir mais a infeliz escolha.

Eu teimei e neguei tanto, mas o amor da flor sempre esteve certo.
Espero que um dia esses dois corações enormes me perdoem. E aos meus desamores, muito obrigado, foi graças à dor que me causaram que hoje posso espalhar amor sem medo, e se eu quebrar a cara tudo bem, dessa vez quem perde não sou eu.

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